sábado, 5 de junho de 2010


Ganhei a série Capitu de aniversário antecipado e vi pela segunda vez, terminei de ver os extras de Capitu… E depois disso minha indignação à recusa do brasileiro à série só aumentou... Como alguém não pode gostar de uma obra prima como foi essa serie?! Tudo que eu havia feito de análise da série, eu supunha que fosse somente uma visão imatura e principiante de uma adolescente. Mas não... Nos extras, o Fernando Carvalho (diretor) disse exatamente tudo que eu já havia pensado, e um pouco mais, é claro, mas com palavras mais bonitas. Palavras de um poeta, palavras de um artista.

Dom Casmurro, com certeza foi uma das obras primas brasileiras mais interessante de todos os tempos, e para mim, a melhor. Machado de Assis, um gênio e orgulho para nossa pátria, foi um exemplo de homem. Sua história de vida mostra que um gênio nasce, não se constrói, apenas se pode aprimorar. Pois um homem que teve a vida como a dele, tem todas as chances de não ser nada na vida, a não ser um homem sem esperança e sem destino. Mas ele foi além e formou obras que ajudassem o nosso povo a compreender melhor o que somos. Ajudou a passar ao nosso país, as idéias e compreensões sobre a vida, de Shakespeare e tantos outros. E me ajudou a ver o mundo de outra maneira.

A série, apesar de sua lentidão, não me aborreceu. Pelo contrário! Me deliciava com os longos momentos mergulhados em umas simples passagem. Porque me dava tempo de além de entender a mensagem passada, ir além! Viajar pelo mundo e pelo espaço em um minuto. E quando voltava, já era outra pessoa. Cada segundo foi necessário, cada palavra... Falando em palavra, o fato de, textualmente falando, Capitu não ter sido uma adaptação e sim uma REPRESENTAÇÃO fidelíssima ao texto de Dom Casmurro, me deixou em êxtase! Escutar a palavra de machado saindo cautelosamente dos corações de todos os atores é impagável. E todo o ambiente criado é tão envolvente, tão enigmático e simples, que podemos ver a verdade na atuação... A verdade na direção... E em tantas outras coisas... Enquanto vejo a série, mal consigo piscar, me sinto tão envolvida por essa história que interromper o DVD quando estou assistindo é uma dor no coração.

As mudanças feitas para Capitu, esteticamente, não poderiam ser mais perfeitas... Um único cenário... É só o que posso dizer... Como alguém consegue fazer um ÚNICO cenário transparecer a energia de tantos cenários distintos? Mesmo vendo que é o mesmo local, mesmo penando: “Eu já vi esta pilastra!”, é como se eu nunca tivesse visto aquela antiga e encantadora casa em toda a minha vida. E essa é a prova de que cinema e teatro podem viver de mãos dadas! Para que não existam mais homens do teatro que digam: “Cinema não é arte” e cineastas que digam: “Teatro é puro barroquismo, tudo em seus extremos!”, essa série conseguiu unir as duas coisas de uma maneira tão bela e harmônica... Mostrou que cinema É arte e que a vida É barroca... Afinal, “A vida é uma ÓPERA”.

O livro, e por conseqüência, a série, estão cheios de reflexões sobre a mente do ser humano.... Mas um dia desses, como eu faço muito, comecei a conversar comigo mesma (Louca? Talvez): “Por que tentamos fazer analise de tudo? Para quê fazemos isso? Afinal, nunca vamos sabe nada com a maior certeza. O mundo está cheio de bipolaridades e varias possibilidades de realidade! O ser humano tenta dar explicação para tudo, e no final, sempre o que resta é uma incógnita de um ciclo vicioso”. Então comecei a pensar: “Talvez, se eu tentar ser mais evoluída e não pensar em “porquês” eu possa me sentir melhor...” Aí me veio à cabeça: “ Mas isso é do ser humano... Se eu não for ser humano... O que serei? Afinal, nós só conhecemos uma realidade e uma maneira de ser.... Ser Humano...” Foi então que eu cheguei à conclusão de que não adianta lutar contra a nossa natureza... E que continuemos fazendo perguntas mirabolantes a tudo, porque essa é a nossa beleza. Essa é a nossa diferença do resto dos animais... Isso que faz da arte uma coisa tão bela e enigmática... É isso que faz de nós Humanos... Então, sejamos Humanos.

Voltando a série, e sem mais tentativas filosóficas, falemos das oposições. Por mais que a série possa parecer estranha e forçadamente alternativa, deve-se ler nas entrelinhas. Tudo está ali por um motivo... Os objetos modernos em contraposição à história e às roupas, por exemplo... Para quê? Para deixar a história atemporal... Mostrar que essa mesma história pode ter passado na idade média, na época das cavernas, hoje em dia, em 3080... As constantes imagens sem sentido que aparecem dos próprios personagens fazendo coisas fora do real, como Escobar dançando no seminário... Para quê? Mostrar o que é o sentimento que querem passar sem que o telespectador veja diretamente ou que seja explicado oralmente... Para tentar deixar o povo um pouco mais perceptivo e parar de querer tudo diluído para eles, já nem digo mais mastigado, e sim diluído.

Em resumo... Essa é a produção audiovisual da minha vida... Uma que sempre irá me tocar e me fazer pensar no sentido da mente humana todas as vezes que a assistir... E viajar na eterna elipse de incógnitas que é o cérebro humano. Recomendo Capitu a qualquer um que esteja disposto a abrir sua mente e sair dos estereótipos temporais e cinematográficos... À qualquer pessoa que se arriscar a ver a série e gostar, eu digo: "Parabéns... Você quebrou a barreira do ordinário..."


見,朋友

6 comentários:

  1. estou me sentindo ordinária agora, cheia de filmes ordinários!

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  2. Eu não cheguei a ver a série, só aquela parte que a Alamis passou na sala. Mas aquela parte foi excelente. :)
    O fato de ela não ter tido o sucesso que merecia suponho que é porque o público em geral está muito acostumado ao realismo, à verossimilhança do cinema americano; e, portanto, pressupõe que toda imagem filmada deve ser realista. Quando se depara com um cinema surrealista e pouco convencional; o público sente estranheza e, por isso mesmo, não gosta daquilo.
    Foi isso o que aconteceu quando fizemos a sessão Macunaíma na casa da Carol, mês passado. O filme é tão away dos padrões americanos que praticamente ninguém gostou dele.
    É por isso que eu digo:

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  3. Eu realmente queria ter visto a série toda... Ouw!! A gente bem que podia fazer uma sessão Capitu, né? *-*~

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